quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Para refletir...

Quero ser operada por um ministro do Supremo Tribunal Federal!

* Cláudia Sansil

O QUÊ? A queda do diploma para jornalista. QUANDO? 17 de junho. ONDE? No Supremo Tribunal Federal. QUEM? 8 dos 9 ministros do STF. COMO? Através de votação. E POR QUE? Deixo para os leitores responderem a última pergunta. Inverti, propositalmente, a ordem do que chamamos, na linguagem jornalística, de LEAD. Mas farei como um famoso sociólogo que, ocupando a cadeira mais importante do país, mandou jogar fora suas teorias ("marxistas"?)! Seguirei o exemplo: queimem! Esqueçam! De que servirá o arcabouço construído, em anos de estudos e pesquisas, a mim e aos alunos que ajudei a formar?

Há 40 anos, ele foi obrigatório. Próximo às festas juninas, derrubaram a exigência do diploma de jornalismo para exercer a profissão. Podemos estabelecer analogia com as fogueiras da Antiguidade? Quantas Joana Darc, pós-modernas, queimarão em praça pública?

Dirão os mais céticos tratar-se de uma medida que não mudará, inclusive com depoimentos de representantes das classes patronais, na contratação dos jornalistas. É como pensa Paulo Tonet Camargo da Associação Nacional dos Jornais. Em sua avaliação, as empresas permanecerão a contratar jornalistas formados. Por que defenderam a queda do diploma? No mínimo contraditório.

O ministro Gilmar Mendes defende a liberdade de expressão. E quem defenderá a nossa? O que dizer a toda uma família, que, muitas vezes, abdica da própria subsistência para bancar um curso a um dos seus entes? Quem se responsabilizará ou arcará com os prejuízos financeiros e psicológicos? O jornalista Clóvis Rossi é categórico ao afirmar não existir liberdade de Imprensa e sim de Empresa. E, agora, acaba de ser ampliada. Qual dos oligopólios da Comunicação vai preferir um jornalista formado, com visão crítica, a uma pessoa que possa “manipular”?

Quantos passos acadêmicos são necessários para formar um ministro do Supremo Tribunal? Não é diferente em nossa carreira. Vamos exigir o fim do diploma para advogados! Como alguém que nunca foi repórter comandará, por exemplo, uma redação? Os proprietários dos veículos ensinarão a editar? As técnicas de entrevistar? Agora, qualquer um, sem formação, poderá exercer a profissão de jornalista. Usurparam-nos!

Nessa perspectiva, vamos, portanto, fazer tratamento dentário com um jardineiro, uma lipoaspiração com um mecânico e encher o Supremo de bons cozinheiros para elaborarem leis e fazerem julgamentos acima de qualquer suspeita!

O presidente da FENAJ, Sérgio Murillo de Andrade, é contrário à medida e corroboro com sua opinião: “é um prejuízo histórico à categoria”. Os juros por essa dívida contraída serão sentidos em curto prazo pela nação brasileira.

Como li há pouco, vergonha é um freio social que nos permite a auto-avaliação e reflexão sobre nosso comportamento. Estou envergonhada pelos outros, pela medida e a votação de 8 a 1! Nunca pensei, mas preciso fazer um agradecimento público ao ministro Marco Aurélio de Mello, único a votar pela manutenção do diploma.

Estou reunindo um grupo de jornalistas, iremos fazer refeições no STF. Alguns podem se habilitar, mesmo sem diplomar na área, a cozinhar para nós. Podem, no entanto, nos oferecer misturas bem indigestas! Não teremos problema, pois se precisarmos de atendimento médico, até de uma cirurgia, teremos à nossa disposição 8 ministros do Supremo a postos para nos socorrer!

Às vezes, o cozinheiro se engasga com o alimento preparado por ele mesmo! Aos ministros do STF, como diriam os generais franceses, bon appetit!!!

* Jornalista Diplomada

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